O Gerador de Ozônio: Por Trás da Precisão e Segurança em Ozonioterapia
Quando ouvimos falar em ozonioterapia, geralmente pensamos logo nos benefícios terapêuticos, nas promessas de melhora de quadros crônicos ou nos debates sobre sua eficácia. Mas existe um ponto raramente abordado, que é essencial para garantir não só o sucesso dos tratamentos, mas principalmente a segurança do paciente: a geração e a dosagem precisa do ozônio. Afinal, ozônio não é uma substância estável, não pode ser armazenado, e deve ser produzido no momento do uso, sob condições muito controladas.
Neste artigo, você vai descobrir por que o domínio técnico sobre os equipamentos, o entendimento do que é dose terapêutica e a escolha do gerador correto são pilares da prática segura e eficaz da ozonioterapia. Vamos entender de onde vem o ozônio medicinal, como medir corretamente sua concentração e quais os cuidados que diferenciam um tratamento profissional de procedimentos arriscados ou ineficazes.
Por que gerar o ozônio na hora?
A molécula de ozônio (O₃) é instável por natureza. Em questão de minutos, começa a se decompor em oxigênio (O₂), especialmente quando exposta ao calor ou a superfícies inadequadas. Essa característica faz com que o ozônio precise ser produzido no exato momento em que será utilizado, com equipamentos específicos, evitando qualquer improviso.
Seja para tratamentos médicos, odontológicos ou para desinfecção de água, o ozônio é gerado a partir do oxigênio puro por meio de processos físicos, e nunca deve ser produzido a partir do ar ambiente. Isso porque o ar contém, além do oxigênio, grandes quantidades de nitrogênio e outras substâncias que, em contato com a descarga elétrica, podem gerar compostos tóxicos, como os óxidos de nitrogênio.
Como é gerado o ozônio medicinal?
Existem três métodos principais de geração do ozônio:
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Radiação ultravioleta (UV): Embora seja uma tecnologia simples, permite pouca produção e baixa precisão no controle da concentração. Por isso, não é adequada para uso terapêutico.
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Processo eletroquímico: Assim como o método UV, gera pequenas quantidades e não garante estabilidade, sendo utilizado apenas em contextos muito específicos.
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Descarga de corona: Este é o padrão ouro para uso médico. Utiliza tubos de alta voltagem (entre 4.000 e 13.000 volts) por onde se faz passar oxigênio puro. A energia da descarga elétrica quebra as moléculas de O₂, permitindo que parte delas se reorganize como O₃. O resultado é uma mistura gasosa com no máximo 5% de ozônio e 95% de oxigênio, que pode ser coletada em seringas ou outros recipientes esterilizados e resistentes ao ozônio.
O gerador médico deve ser construído com materiais específicos: aço inoxidável 316L, titânio puro, vidro de borossilicato (Pyrex), Teflon, Viton e poliuretano. Evitar qualquer material que possa se degradar com ozônio é fundamental para a segurança. Outro ponto crítico é a presença de um fotômetro confiável no equipamento, capaz de medir em tempo real a concentração exata do ozônio produzido.
O papel da precisão: medir a concentração é fundamental
A eficácia e a segurança do tratamento dependem da dose de ozônio administrada. Para isso, é preciso conhecer com exatidão a concentração do gás (em microgramas por mililitro – mcg/ml) e o volume de gás aplicado. Isso exige que o gerador permita essa leitura precisa e que seja regularmente calibrado, geralmente por iodometria, método químico reconhecido como padrão-ouro.
A dose total de ozônio é sempre calculada multiplicando-se o volume do gás (em ml) pela concentração (em mcg/ml). Por exemplo: se o profissional utilizar 100 ml de gás com concentração de 40 mcg/ml, a dose final será de 4.000 mcg ou 4 mg de ozônio. Parece simples, mas qualquer variação no equipamento pode comprometer o resultado, seja por subdosagem (efeito placebo) ou por exposição excessiva, que pode ser tóxica.
Modernos geradores médicos oferecem concentrações entre 1 e 100 mcg/ml, cobrindo todas as necessidades clínicas — de insuflação retal, uso tópico, até preparo de água ou óleo ozonizados. O controle da concentração é feito por um sistema fotométrico, que utiliza a absorção de luz ultravioleta pelo ozônio, sendo possível checar o valor em tempo real durante a retirada do gás para aplicação.
O controle de qualidade do equipamento: rotina indispensável
Assim como qualquer aparelho de uso médico, o gerador de ozônio deve passar por manutenções periódicas. Isso inclui a verificação do fotômetro, a calibração por iodometria e o uso de seringas de polipropileno com revestimento siliconado, sempre descartáveis. Pequenas variações diárias na concentração (até 1%) são toleráveis, mas não se deve jamais utilizar equipamentos obsoletos, danificados ou sem certificação.
A segurança também depende da correta eliminação do ozônio residual não utilizado, que deve ser transformado em oxigênio puro antes de ser liberado no ambiente, por meio de um catalisador interno aquecido a cerca de 70°C. Isso evita riscos à saúde da equipe e dos pacientes, já que a inalação de ozônio é absolutamente contraindicada.
Por que não usar aparelhos caseiros ou improvisados?
O uso de geradores artesanais, industriais ou “genéricos” compromete totalmente o controle da dose e a segurança. Geradores não certificados podem liberar, junto com o ozônio, contaminantes como óxidos de nitrogênio e partículas de materiais degradados. Sem um fotômetro confiável, não há como garantir a concentração administrada. Em ozonioterapia, precisão não é luxo: é uma exigência técnica e ética.
Consequências do mau uso: da ineficácia ao risco real
Quando a dose é insuficiente, o tratamento pode não produzir efeito algum, levando o paciente à frustração e ao descrédito da terapia. Já doses elevadas, acima da capacidade antioxidante do sangue, podem causar dano oxidativo, destruir células, provocar inflamação e até complicações graves. O maior risco, porém, está nas aplicações intravenosas diretas do gás — hoje proibidas — e na tentativa de improvisar protocolos, volumes ou vias de administração sem conhecimento técnico, o que pode resultar em embolia, toxicidade e até óbito.
O futuro dos geradores de ozônio: praticidade, portabilidade e precisão
Com o crescimento da ozonioterapia em todo o mundo, há uma demanda por equipamentos menores, portáteis e ainda mais precisos, capazes de atender tanto clínicas quanto uso domiciliar, sempre sob supervisão de um profissional. Geradores modernos permitem a produção de pequenas doses, com concentração entre 2 e 30 mcg/ml, ideais para tratamentos tópicos, insuflação retal e preparo de água ou óleos ozonizados para uso em casa.
A popularização desses dispositivos depende de regulamentação rigorosa e treinamento adequado dos profissionais, evitando a banalização e protegendo a reputação de uma abordagem que se apoia em ciência, experiência clínica e segurança.
Em resumo: precisão é o coração da ozonioterapia profissional
Antes de qualquer promessa terapêutica, vem a responsabilidade com a vida e o bem-estar do paciente. Por isso, a escolha e o domínio do gerador de ozônio são tão importantes quanto a indicação clínica. Equipamento certificado, calibrado, manuseado por profissionais treinados, com atenção à dose exata e à eliminação segura do ozônio residual: essa é a receita que separa um tratamento responsável de improvisações perigosas.
Entender e valorizar o aspecto técnico da geração do ozônio é o primeiro passo para que a ozonioterapia seja reconhecida e praticada como merece: com seriedade, respeito à ciência e, acima de tudo, ao ser humano.